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Parentalidade Positiva: Reflexões que Empoderam

Parentalidade Positiva Reflexões que Empoderam

As crianças nunca são muito boas para escutar os mais velhos, mas elas nunca falham em imitá-los.”

James Baldwin

A Ciência aponta que boas práticas parentais estão diretamente relacionadas à formação de seres humanos com maior potencial criativo e realizador, com mais condições de gerenciar situações adversas, maior capacidade de resiliência, mais solidários, mais comprometidos com o bem-estar pessoal e social, mais realizados e, portanto, mais felizes. Sem sombra de dúvida, esse é o grande anseio de todos os pais e educadores, mas o grande desafio é encontrar caminhos e ações que conduzam à concretização desse sonho.

Existem fórmulas? Qual é a maneira correta? De que maneira podemos saber se estamos no caminho certo ou se estamos tomando as melhores decisões em relação à educação de nossas crianças e jovens? Não se pode perder de vista que os hábitos e parâmetros podem variar conforme as diferentes culturas. Determinados hábitos são considerados perfeitamente normais para determinados povos e verdadeiras aberrações para outros. Então, diante disso, precisamos entender que nossa prioridade de ação deve estar relacionada ao fortalecimento das potencialidades e das forças de caráter, pois estas serão determinantes na constituição da personalidade de nossas crianças e jovens, tornando-os cidadãos íntegros em qualquer contexto em que estejam inseridos.

Sucesso acadêmico

Portanto, reconhecer essas potencialidades de nossos educandos, promover ações educacionais que contribuam com o fortalecimento dessas virtudes e forças de caráter são tarefas imprescindíveis para que alcancemos o tão almejado sucesso acadêmico e a formação de cidadãos capazes de se lançarem ao mundo com uma bagagem de habilidades e competências sólidas, capazes de superar qualquer tipo de adversidade.

Construção e contexto familiar

A parentalidade positiva passa por diversas dimensões e variáveis. Uma das referências mais importantes nos aponta que, no contexto familiar, os pais convertem-se em modelos de comportamento uma vez que as crianças aprendem com o que veem e com o que experimentam. Inconscientemente, os adultos vão criando padrões de comportamento que as crianças, paulatinamente, absorvem e se apropriam. Por isso, é muito importante fornecer bons modelos de ações para o aprendizado de aptidões sociais. As crianças aprendem mais com o que se vivencia do que com aquilo que ouvem. Em outras palavras, a máxima – “Faça o que eu falo, não faça o que eu faço” – é totalmente incoerente e infrutífera na educação.

Um primeiro passo na direção de uma educação assertiva é a tomada de consciência a respeito da configuração-padrão estabelecida na interação familiar. A colocação de um foco sobre a maneira como reagimos diante das mais diversas situações cotidianas é determinante para essa tomada de consciência. Em um processo de reação diante de seu filho, como você se manifesta em relação ao que gosta? E do que não gosta? Qual é seu esquema de ação-reação quando está sob tensão? E quando está diante de uma situação de frustração? Quais são os hábitos que você cultiva na convivência com seus filhos? Você é um praticante daquilo que os incentiva a fazer?  Por exemplo, você considera importante que as crianças e jovens pratiquem a leitura. Quais são seus hábitos em relação a essa prática? Você espera que os jovens deixem o celular desligado durante as refeições e que conversem com seus familiares olhando nos olhos. Como você age em relação a essa prática? Estes são pequenos exemplos de situações cotidianas que funcionam como verdadeiras “armadilhas” na educação das crianças e jovens. A distância entre o discurso e a prática são verdadeiros “boicotadores” do sucesso educacional.

Emoções e Expressão

Por outro lado, não se pode perder de vista a busca pela integridade no que diz respeito à expressão dos sentimentos e das emoções. Reconhecer as emoções positivas e diferenciá-las das negativas é muito importante. As emoções negativas são sinalizadoras daquilo que não está fluindo de maneira adequada. Então, reconhecer a tristeza, a raiva, o medo e outros sentimentos é fundamental para que se possam rever situações e interações indesejadas. Muitas vezes, uma “frustração” diante de algo que não aconteceu conforme o planejado é o ponto de partida para uma tomada de decisão consciente e uma mudança de atitude que conduza à sensação de satisfação. Então, é preciso dar o devido espaço às emoções e aos sentimentos, não se camuflando as sensações. É muito comum a tendência de adultos tentarem “proteger” as crianças de emoções negativas – uma “camuflagem” de sentimentos. Porém, essa prática dificulta a formação de adultos resilientes. É preciso sim oferecer o devido apoio diante das adversidades. Porém, é necessário que as crianças e jovens se “confrontem” com as emoções e sensações adversas.

Do ponto de vista educacional, significa evitar a superproteção e não privar a criança ou jovem de situações que lhes promovam crescimento e que contribuam com a aprendizagem e com a tolerância à frustração.  O ponto de equilíbrio está no respeito ao nível de habilidade apresentado pelo educando, conforme sua faixa etária. Além disso, no cuidado com a oportunidade de vivências que incentivem o desenvolvimento e a perseverança.

Desenvolvimento e comportamento das crianças

No que diz respeito ao reconhecimento dos resultados positivos apresentados pelas crianças, também há que se ter um cuidado especial. O modo de elogiar também pode influenciar na aquisição e formação de forças de caráter relevantes e determinantes para o sucesso e para a felicidade. Elogios sinceros ao trabalho e ao processo ajudam a formar pessoas mais humildes e resilientes, com menos necessidade de reconhecimento externo e com mais autoconfiança.

Estudos da Neurociência e da Psicologia apontam que, graças à plasticidade neuronal, somos capazes de desenvolver novas aprendizagens e novos hábitos a partir de novos padrões de comportamentos. Para Carol S.Dweek, psicóloga e pesquisadora da Universidade Stanford, é preciso buscar meios adequados de tecer elogios às crianças e aos jovens. É preciso estimular a Mentalidade de Crescimento (Growth Mindset) em detrimento à Mentalidade Fixa (Fixed Mindset). Elogios à inteligência ou a um suposto dom não favorecem a evolução. Crianças que ouvem que a inteligência pode ser desenvolvida por meio do trabalho e da educação desenvolvem mentalidade de crescimento, isto é, a ideia de que novas habilidades podem ser aprendidas caso se esforcem para isso.

A criança que é elogiada pela inteligência pode desenvolver a crença de que já é detentora de um potencial e de que não precisa imprimir esforço para alcançar resultados (Fixed Mindset). Ao passo que a criança incentivada pelo esforço tende a se preocupar mais com o aprendizado, é aquela que imprimirá um novo esforço diante de um resultado ruim, que buscará novas estratégias de aprendizagem em vez de desistir (Growt Mindset) – desenvolvimento de alto grau de resiliência.

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A mentalidade do crescimento

A mentalidade de crescimento é o verdadeiro catalisador de grandes conquistas. Exames cerebrais mostram que nossa mente tem muito mais plasticidade com o tempo do que se imaginou – as características básicas da nossa condição de aprendizado podem ser aprimoradas mesmo em idades mais avançadas. A persistência e a perseverança diante de obstáculos e adversidades são a chave para o sucesso pleno em uma série de áreas.

Tudo isso é bastante revelador e relevante em relação à educação de nossas crianças e jovens. Quantas pessoas inteligentes e talentosas que você conhece e que não realizaram plenamente seu potencial por terem uma mentalidade fixa em relação à  sua própria condição e por não investirem esforço diante de alguma adversidade que as distanciou do sucesso esperado? Em contrapartida, quantas outras pessoas que, apesar de condições adversas, conquistaram grandes feitos e se sentiram realizadas com grandes conquistas em vista de esforço e dedicação empregados de maneira persistente? Portanto, um dos grandes desafios para o sucesso da educação de crianças e jovens também passa pelo reconhecimento de suas potencialidades e o verdadeiro incentivo ao esforço e à busca pela superação de possíveis dificuldades. Assim, contribuiremos para o desenvolvimento da autoconfiança e da automotivação.

Outra dimensão importante no fazer educacional passa pela linguagem utilizada nessa relação entre os adultos e as crianças e jovens. É preciso evitar os rótulos e a linguagem limitadora (“Ele é preguiçoso!”; “Ela tem déficit de atenção!”; “Odeio esse seu jeito!”; “Você é assim, não consegue mudar!”; “Eu sou assim e pronto!”); substituindo-os por expressões mais abrangentes a respeito das características das crianças ou dos jovens, contribuindo para que se percebam de maneira mais ampla. Por exemplo: “Minha filha tem bastante facilidade para fazer amizades, mas ainda não desenvolveu, AINDA, muita disciplina para estudar.”; “Meu filho consegue se organizar muito bem em sua rotina de estudos, porém AINDA não conseguiu controlar a timidez quando precisa falar diante de outras pessoas.” (O poder do “ainda não...”)  O reconhecimento das potencialidades e a crença de que sempre é possível aprender e desenvolver novos comportamentos é um dos pressupostos para uma educação positiva e focada no bem-estar.

Linguagem ideal para comunicação

A linguagem utilizada pelo adulto pode ajudar a criança a reconhecer as emoções e as intenções próprias e/ou as alheias. A substituição de uma linguagem limitadora por uma linguagem incentivadora contribuirá com o desenvolvimento de uma autopercepção positiva e da automotivação do indivíduo. A forma como escolhemos enxergar e manifestar os acontecimentos afeta, diretamente, nossas sensações perante a vida e o desdobramento de nossas ações. Pessoas otimistas realistas não ignoram as informações negativas. Entretanto, tomam posicionamentos positivos e proativos diante das adversidades. O reenquadramento de nossa linguagem, de nossas ações e reações pode modificar nossa experiência de mundo e tornar mais feliz a nossa vida e a de nossas crianças e jovens.

Assim, desenvolver a autoconsciência e a tomada de decisões refletidas em relação ao processo de ação e reação na criação dos filhos é um dos principais passos na direção de uma mudança de padrão de relacionamento. Esse é o pressuposto para nos tornarmos pais melhores, mães melhores, educadores melhores – pessoas melhores. Desta maneira, deixamos um legado de bem-estar, promovendo uma educação que conduza à formação de adultos mais felizes, confiantes e resilientes.

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Dr. Ricardo Gaspar Diretor Acadêmico

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